domingo, 16 de setembro de 2012

Bob Dylan na capa da Rolling Stone

Para aumentar a divulgação de Tempest, Bob Dylan concedeu uma entrevista para a Rolling Stone americana, publicada na edição #1166. Nela, tocou em assuntos interessantes e curiosos, como sua “transfiguração”, a escravidão nos EUA, Obama, sua relação com arte e sua ira aos críticos. Mikal Gilmore, que já entrevistou Dylan para a Rolling Stones outras duas vezes (1986 e 2001), afirmou dessa vez que “este é o Bob Dylan como se você nunca tivesse o conhecido”.


Gilmore falou com Dylan pessoalmente e trocou algumas ligações e recados durante alguns dias. No encontro, feito em um restaurante de Santa Mônica (próximo a Malibu, onde Bob mora), o cantor vestia trajes mais quentes do que o clima sugeria: jaqueta de couro abotoada, camisa branca espessa, um gorro e uma franja falsa (um personagem parecido com o que Jotabê Medeiros encontrou em Copacabana).
Abaixo, alguns destaques dessa já histórica entrevista.

Tempest

Sobre Tempest, Bob disse que o álbum nasceu contrário a sua intenção – sua preferência era de um disco religioso (mais parecido com as canções tradicionais religiosas do que com os lançamentos de sua fase cristã). Contudo, viu que as canções se uniam e seguiu dessa forma, que para ele é muito mas fácil fazer.
Sobre o disco Time Out of Mind, marco de sua “volta triunfal”, Dylan afirmou que o que mudou foi sua forma de escrever. Após um hiato de seis anos, Bob Dylan voltou a escrever, dessa vez tendo em vista seu novo público. Ao invés de obrigar sua audiência a ouvir as canções que fizeram sentido em outros tempos, preferiu compor músicas que seu público atual pudesse se identificar.

Bobby Zimmerman²

Um dos pontos mais curiosos da entrevista foi sua revelação como um “transfigurado”. Ao ser questionado sobre ser uma voz única para os Estados Unidos, já que retrata eventos históricos ou os comenta, Dylan responde, mas alterna rapidamente seu humor, empolgando-se para compartilhar algo. Ele se levanta, vai até uma mesa ao lado e tráz o livro Hell’s Angel: The Life and Times of Sonny Barger and the Hells Angels Motorcycle Club, de Sonny Barger.
Primeiro, ele mostra quem são os co-autores: Keith e Kent Zimmerman (mesmo sobrenome de batismo de Dylan, nascido Robert Allen Zimmerman). Depois, pede para que Gilmore leia um trecho tão intrigante quanto a própria cena em que o jornalista se encontra: uma descrição da morte acidental de um motociclista chamado… Bobby Zimmerman (!).
A morte deste Bobby foi anos antes de Dylan sofrer seu próprio acidente de moto. Assim, Bob refletiu sobre seu acidente e sua possível morte. Como transfigurado, Dylan aparentemente remete ao conceito cristão de “transformação” ou mudança. Bob diz que só pensou sobre quem ele era a partir da leitura do livro de Barger e ainda conclui:
“Você está fazendo perguntas para alguém que está há muito tempo morto. Você está perguntando para uma pessoa que não existe”.

Crônicas, volume 2?

Perguntado sobre a continuação de sua autobiografia, planejada para ter três volumes, Bob Dylan disse que está sempre escrevendo, mas não informou qualquer data. Ele comentou que “Crônicas, V.1” parecia não ter um editor. Para ele, escrever não é complicado, mas o mais complexo é a releitura e o tempo que isso consome.

Judas

Mikal Gilmore questionou Bob sobre as críticas feitas por vários jornalistas que acusaram o músico de plágio. Algumas frases do livro Confessions of a Yakuza aparecem quase que integralmente em canções de Love & Theft e letras de Modern Times parecem ter sido emprestadas de poemas de Henry Timrod. Sobre isso, extraordinariamente fez menção a um dos episódios mais marcantes de sua cáustica escolha pela guitarra, em 65:
“Essas pessoas colocaram o rótulo de Judas em mim. Judas, o nome mais odiado da história humana! Se você acha que já te colocaram um apelido ruim, tenta seguir em frente com esse peso. E por quê? Por tocar guitarra elétrica. Como se isso fosse o mesmo que trair nosso Senhor e entregá-lo para a crucificação. Todos esses desgraçados maldosos podem apodrecer no inferno”

“No jazz e no folk a citação é uma tradição rica e enriquecedora. Isso certamente é verdade para todos, menos para mim”, desabafa, “As regras são diferentes para mim. Quanto a Henry Timrod, você já ouviu falar dele? Quem tem lido ele ultimamente? E quem está colocando seu nome em evidência? Quem fez com que você o lesse? Se você acha que é fácil citá-lo e que isso ajudaria o seu trabalho, faça você mesmo e vamos ver quão longe você vai. Só bundões reclamam disso. É algo antigo, parte da tradição. (…) Isso se chama composição. Tem a ver com ritmo e melodia e depois vale tudo. Você torna tudo seu. Todos fazemos isso”
Além desses destaques, Bob Dylan conversou sobre sua não identificação com os anos 60 (principalmente o movimento hippie), o governo de Obama (que Dylan tratou de desviar de qualquer afirmação), elogios a Bruce Springsgteen e Bono Vox e até de sua relação com o público nos shows, dizendo: “Minhas músicas são pessoais. Eu não gostaria que as pessoas cantassem junto comigo. Soaria engraçado”.
Agora é esperar que seja feita a tradução na íntegra na próxima edição da Rolling Stone Brasil.
Mas enquanto ela não vem:

Fonte: Dylanesco

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Quem faz o ROCK NA VEIA

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Sou bancário (e isso é muito ruim, acreditem), guitarrista e vocalista da banda Raiobitz (Rio Claro-SP), colaborador do Whiplash.net e pai em horário integral. Curto rock e todas as suas vertentes desde que me entendo por gente e quero compartilhar dessa paixão.