Quando reclamava da ausência de grandes shows internacionais em terras tupiniquins, o público brasileiro mal podia imaginar o efeito colateral que entrar para a rota das turnês mundiais poderia ter. O excesso de eventos, com ingressos a preços elevados, acabou servindo como um desestímulo para quem tanto ansiava por ver os maiores artistas do mundo falando um “Boa noite” cheio de sotaque para o público local. “Como toda onda, uma hora quebra: o dólar subiu, o consumidor se endividou e estamos passando por um período de ressaca”, afirma Léo Ganem, presidente da Geo.
Nos últimos dois meses, duas grandes apresentações mostraram bem os efeitos desta ressaca. Organizadas pela maior empresa do setor na América Latina, a T4F, as apresentações de Madonna e Lady Gaga geraram grandes expectativas. Ao invés de divulgar lucros imensos e um incontestável sucesso de público e crítica que esperava, a empresa, presidida por Fernando Alterio, se viu obrigada a soltar um comunicado ao mercado afirmando que as coisas não haviam saído como o planejado.
“Nossos resultados poderão sofrer impacto negativo substancial no exercício de 2012”, afirmou Marcelo Martins Louro, diretor de Relações com os Investidores da T4F, no texto divulgado ontem. Nos nove primeiros meses deste ano, a companhia acumula um lucro líquido de R$ 27,3 milhões, estável na comparação com o valor obtido no mesmo período de 2011.
Para justificar os resultados negativos, a empresa elencou uma série de fatores, mas o destaque ficou com as vendas abaixo do esperado dos ingressos. Tanto em Madonna como em Lady Gaga, o público ficou abaixo do esperado pelo mercado.
Em parte, a situação vivida pela T4F é resultado do crescimento do setor que ela ajudou a desenvolver no país. Primeira grande empresa a fazer esse tipo de evento em larga escala, com o sucesso das primeiras iniciativas, logo começaram a surgir concorrentes de peso, como a Geo Eventos (da Globo), a XYZ (do grupo de mídia ABC), e a IMX (da EBX, de Eike Batista).
Com o crescimento e consolidação de um mercado que antes não existia, a T4F acabou sendo a mais penalizada. A organização de festivais, como o Lollapalooza, da Geo, e de grandes musicais internacionais, como o Shrek, da XYZ, acabaram disputando o bolso do consumidor com os eventos da T4F, que sempre teve atuação forte nessas duas áreas. Para piorar, a companhia perdeu, para a IMX, o contrato de organização dos eventos do Cirque du Soleil no país. O grupo circense é responsável por mais de 10% do faturamento anual da empresa.
Efeito prolongado
A T4F não acredita que os efeitos do aumento da demanda serão passageiros. “Essas alterações, inclusive no cenário competitivo, comportamento do consumidor e custos de cachê e produção, deverão resultar em um novo patamar de margem a ser observada no curto prazo”, disse Louro, no comunicado. Apesar disso, o texto afirma que os números de 2013 devem vir melhores dos que os do final deste ano. A empresa ainda não divulgou shows internacionais para 2013, mas garante que segue em negociação com diversas atrações.
Nas outras empresas do setor, as perspectivas para 2013 seguem em linha com o que aconteceu em 2012. A Geo mantém a aposta na organização do Lollapalooza; a XYZ em eventos como o São Paulo Fashion Week; e a IMX prepara a estreia oficial no mercado, com a sociedade com o Rock in Rio, e espetáculos do Cirque du Soleil. “Os grandes festivais concentrarão as atrações. A economia deve andar de lado e o pessoal vai manter um apetite menor pelo imenso risco dos shows isolados”, diz Ganem, da Geo.
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