"Ainda há muita mágoa sobre tudo o que aconteceu", disse o baixista Canisso, que, depois de abandonar a banda em 2003, retornou em 2007, completando o line up atual do grupo brasiliense. "Acho que foi explorado demais esse encontro. Mas a gente amadureceu e pode ser até um novo começo para essa relação."
O músico afirmou ser estranha a atual situação entre o Raimundos e Rodolfo, principalmente pelo fato de a banda ter sido criada como uma brincadeira de amigos. Segundo ele, há 5 anos os ex-colegas não se encontravam. "O Rodolfo é padrinho do meu filho e só nos vemos quando é por acaso. Para você chamar a pessoa de amigo, não se pode deixar a amizade ao sabor do destino. E com a gente tem sido há anos assim."
A saída do vocalista marcou a decorrada da banda no mercado nacional, que dominou ao longo da segunda metade da década de 1990, o que marca sua carreira até hoje. "Em cada show, a gente tem que lutar contra o nosso antigo passado megalomaníaco para mostrar que a formação atual ainda tem gás", explicou Canisso, creditando principalmente às produtoras a atual baixa. "É mais difícil convencer os contratantes do festival da nossa qualidade do que a galera, que está sempre com a gente."
Mas como uma banda formada por amigos e que sempre foi baseada na amizade entre seus integrantes terminou repentinamente, gerando como resultado mágoa e críticas de um lado a outro? "O que faltou ao Raimundos na época foi administração", explicou Digão, guitarrista e atual vocalista do quarteto. "Era tudo muito corrido, a gente não parava, não tirava férias. Hoje estamos lidando mais com a parte emocional da banda, justamente para não cometer os mesmos erros de antigamente."
Para Canisso, a grande tristeza dos tempos áureos da banda foi justamente o fato de a ótima relação entre seus integrantes ter se desgastado. "Todo mundo chega em você, elogia e tals, e a amizade, que foi aquela fagulha que deu origem ao Raimundos, ficou fraquinha. A banda foi formada porque não aguentávamos ficar um longe do outro e, no final, nem amigos éramos mais."
Estrelas
O ano de 1999 foi o grande auge do Raimundos. Depois de atravessar a década conquistando certificados de discos de ouro e platina com seus quatro primeiros trabalhos, o quarteto lançou Só No Forevis e foi alçado à qualidade de ídolo do pop, com mais de 850 mil cópias vendidas. No entanto, questionados se incomodavam-se com a enorme exposição da época, os integrantes remanescentes da formação original da banda afirmaram sequer lembrarem dela.
"Eu vejo tudo aquilo como se tivesse acontecido com outra pessoa", comentou Canisso, rechaçando se recordar de si como parte da maior banda de rock brasileiro dos anos 1990. "A gente não percebe o vulto do negócio quando está dentro."
O quarteto é hoje, literalmente, metade da banda que foi naquela época. Apenas Canisso e Digão permanecem em seu line up, que também perdeu o baterista Fred, atualmente um empresário de sucesso, segundo o baixista. Ainda assim, certas coisas nunca mudaram no grupo: "você pode esperar o que quiser do Raimundos, menos amansar o som", resumiu Digão.
Matéria original: Terra
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